top of page
Carlos Scliar e Cabo Frio
Férias em Cabo Frio com a família, pleno inverno e gripe surpresa (brinde da creche). Menino gripado, pé na areia, vento e barulho de mar.
Bom de ter avós por perto é também a possibilidade de fugir um pouco (sou cria de cidade, não de praia). Em um dia fui a um café, dia de pós TPM, (deviam inventar um termo pra isso), aproveitando pra ler um livro que sobrou na lista de antes do rapazinho nascer. Fiquei feliz com essa contravenção das convenções.
No último dia, sol torrando, convidando praia e resolvi visitar lugares que eu tinha achado interessantes à distância.
O primeiro, um edifício emocionante, o Convento Nossa Senhora dos Anjos, do século 17, desses feitos com camadas de tempo, com um vazio de um claustro que não existe mais. Tudo bem proporcionado pelos limites das mãos e do próprio fazer. Janelas espaçadas, proporções calmas, um alento pros olhos.
Depois, o Charitas, onde vi um objeto cortante, um cilindro onde as crianças eram deixadas. Um oratório onde o santo era a criança. Um sino ao lado pra avisar que havia alguém ali. Meus olhos cheios, nó na garganta. O nome é roda dos expostos. Na outra sala, barquinhos que me deram vontade de que meu filho estivesse ali, pra ver os detalhes. Espaço todo luminoso, salões bonitos, janelas amplas.
Ao final, a casa atelier de Carlos Scliar, com obras preciosas dele e do Cildo Meirelles. Visita muito especial, finalizada pela visita ao próprio atelier do artista. Uma sala ampla, janelas triplas em cada lado da sala. Um painel de luz pra trabalhos noturnos.
Todo o museu é um encanto, mas a joia mesmo é o estúdio do artista. No salão de trabalho, pigmentos em pó, vindos de Minas Gerais, misturados com cola e água. Telas esticadas sobre um suporte de madeira. Pinturas feitas em gabaritos recortados à mão. Um jogo entre rigidez e fluidez. Trabalho gráfico e pictórico ao mesmo tempo.
Na janela, a luz direta, refletida na água, um brilho que talvez ele estivesse tentando capturar. A placidez da água, uma linha horizonte rígida, bem-marcada, e o brilho sempre mutável da superfície móvel, afeita aos ventos, ao eco do movimento das ondas. Composições de objetos da casa. Ecos de Giorgio Morandi? Mas aqui, exploração de um outro limite entre peso e leveza.
Um espaço dedicado, um final de vida dedicada.
Um quarto ao lado, uma cama na biblioteca. Um banheiro amplo, azulejos brancos, finalizando esse espaço de claustro. Um espaço imersivo. Um espaço encantador, desses íntimos, que a gente precisa pedir licença e entrar em silêncio.
GALERIA
bottom of page